Segunda unidade da propriedade de descanso de ovinos para abate (PDOA) foi instalada na Fundação Educacional de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Econômico (FUNPESG)
Campo Grande (MS) – Apontados como alguns dos maiores gargalos para a ovinocultura, a comercialização e a logística sempre figuraram como fatores limitantes para a expansão da atividade.
Em Mato Grosso do Sul, a partir dessa demanda e por uma iniciativa da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) em parceria com a ASMACO (Associação Sul-mato-grossense de Criadores de Ovinos), contando com apoio da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), da Câmara Setorial da Ovinocultura, do Ministério da Agricultura e das Secretarias da Produção e Agricultura Familiar (Sepaf) e de Fazenda (Sefaz), iniciaram-se as discussões para encontrar uma solução para o problema. A parceria resultou na criação e instalação, na capital, em 2013, da primeira PDOA (propriedade de descanso de ovinos para abate) do Estado.
O sistema, que possibilita que os produtores reúnam quantidades menores de animais prontos para o abate numa única carga para encaminhar para o frigorífico abriu mercado no Estado e fora dele, gerou escala, deu nova dinâmica ao comércio de ovinos e motivou criadores que já haviam deixado a atividade um tanto quanto de lado. Desde a instalação até hoje já foram feitos 15 embarques utilizando a PDOA, enviando para o abate 1.848 animais. Além disso, o comércio local também se interessou pelos produtos oferecidos e no ano de 2016 já foram abatidos 512 animais para atender o município de Campo Grande. No total foram abatidos 3.234 animais desde 2013, a partir da organização do setor.
A segunda unidade foi inaugurada oficialmente nesta quinta-feira, dia 30 de julho, em São Gabriel do Oeste, município distante 133 quilômetros da capital. A parceria com a Prefeitura, através da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, sob o comando de Leo Luís Grison, garantiu o espaço necessário na Fundação Educacional de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Econômico (FUNPESG).
Sobre o sistema
Segundo a médica Veterinária Ana Cristina Andrade, Secretária da Asmaco, o sistema garante que o preço negociado com o frigorífico seja o mesmo para todos os produtores e cada um receba na sua conta o valor referente aos animais que enviou, sem intermediários. Hoje o preço pago, pelo quilo do animal vivo, gira em torno de R$ 7,00, os animais enviados tem de quatro a seis meses e pesam em média 40 quilos cada, com rendimento variando entre 43% e 47%.
Segundo ela, a demanda que aqui no Estado hoje varia entre 300 e 400 animais por mês, não vem sendo atendida, o que demonstra o espaço para o aumento da produção.
Para estimular a ampliação do número de criadores no Estado a Associação tem recebido os interessados em saber mais sobre a atividade, nos encontros de troca de experiências que promove com seus associados. A ideia de apresentar os desafios e vantagens da criação de ovinos e as possibilidades de integração com outras atividades tem dado resultado positivo.
Mesmo com o mercado aquecido, Ana lembra que é muito importante que, os produtores que estão interessados em expandir ou aqueles que pretendem iniciar na atividade, façam um bom planejamento prévio, conversem com outros criadores do entorno, adquiram as fêmeas de locais próximos da sua propriedade e montem um bom cronograma sanitário. “Não existe uma formula única para obter sucesso na criação de cordeiros, para cada propriedade uma solução diferente.” Alerta a médica veterinária.
Para 2017, estão nos planos da Associação finalizar a planilha de avaliação do negócio. Através dela será possível orientar os produtores como iniciar o trabalho, qual a quantidade de animais e funcionários ideal.
A PDOA de São Gabriel
A mão de obra especializada, cada vez mais escassa no campo foi o que motivou a Prefeitura a convidar para a apresentação do sistema, alunos do curso técnico em agropecuária da fundação.
Para a aluna do terceiro ano, Julia Fernanda Mesomo, que pretende cursar a faculdade de agronomia, conhecer o sistema foi muito importante e deve influenciar positivamente nas decisões futuras dela e de vários outros colegas que a acompanhavam. “Precisamos estar atentos aos espaços que o mercado vai abrindo”. Completou.
Bento Carneiro, produtor do município de Rio Negro, que reduziu o número de ovinos por conta das dificuldades na hora da comercialização, contou que ficou animado com a solução apresentada e deve repensar sobre o assunto. Hoje ele tem apenas 20 animais na sua propriedade e integrado com a atividade leiteira tira o sustento da família em pouco mais de 50 hectares. O produtor conta que hoje, com apenas oitenta litros de leite diários, não vê condições de segurar os filhos no campo e isso é uma de suas maiores preocupações.
Sanidade
Suzana Cometki Ortega, médica veterinária fiscal Estadual Agropecuário da Iagro, que acompanhou todo o processo de instalação das duas unidades de PDOA, explicou que um médico veterinário deve ficar responsável pelos animais desde a chegada até o embarque ao frigorífico que podem ficar na propriedade de descanso no máximo até três dias.
Segundo as normas estabelecidas nas resoluções estaduais, além de realizar inspeções, o veterinário também deve assegurar que os animais sejam destinados exclusivamente ao abate em frigoríficos com Serviço de Inspeção Sanitária Federal, Estadual ou Municipal, deve responder pelo agendamento do embarque, pelos formulários que monitoram a relação de animais e a higienização do local, e ainda por passar informações ao Serviço Veterinário Oficial, sobre qualquer suspeita de enfermidade.
Incentivos do Governo do Estado
Através do Proape (Programa de Avanços da Pecuária de Mato Grosso do Sul), o Governo do Estado incentiva varias cadeias produtivas entre as quais, a cadeia de ovinos.
Na página da SEPAF o produtor e o responsável técnico da propriedade podem se cadastrar gratuitamente. A partir dai, ao entregar animais em frigoríficos que também estejam cadastrados neste programa é possível obter 50% de abatimento sobre o imposto para operações de venda realizadas para fora do Estado ou receber R$ 3,70 por animal abatido aqui mesmo no Estado.
Tanto para participar da comercialização através da PDOA, quanto para se inscrever no Proape o produtor não precisa estar vinculado a nenhuma associação.
Gestores de diversos municípios tem procurado o grupo para conhecer o sistema, que é pioneiro no Brasil e já foi sondado pelo Ministério da Agricultura para ser apresentado inclusive para criadores de outros Estados.
Participaram do evento, o Prefeito Adão Lírio Rolim, o Superintendente de Desenvolvimento Rural do Estado, Edwin Baur, o Diretor Presidente da Iagro, Luciano Chiochetta, o Diretor Executivo da Iagro, Roberto Bueno, o pesquisador Fernando Reis, da Embrapa, o médico veterinário Horácio Tinoco, da Famasul, o Vereador Juninho Gazineu e o secretário de Desenvolvimento Econômico de Camapuã, Mauricio Palombo.
Kelly Ventorim, assessora de comunicação da Sepaf e Iagro