Identificada pela primeira vez em 2015 no Brasil, a planta daninha Amaranthus palmeri foi eliminada das lavouras do Mato Grosso. Trata-se de uma planta exótica extremamente agressiva e por isso o trabalho de contenção deve ser permanente, pois pode haver vestígios de sementes nas lavouras e a planta pode entrar no País novamente a qualquer momento.
Nos Estados Unidos, onde a planta daninha está disseminada em várias áreas, os produtores relataram redução entre 20% e 80% na produtividade em soja, milho e algodão. “O Amaranthus palmeri é uma planta invasiva de grande agressividade, que se adapta com facilidade a diferentes ambientes e condições climáticas”, explica o pesquisador da Embrapa Soja Dionísio Gazziero, que vem acompanhando a evolução do Amaranthus palmeri nos Estados Unidos e agora no Brasil.
Devido ao grande risco de sua entrada nas lavouras brasileiras pelas fronteiras com países vizinhos, a Embrapa elaborou um comunicado técnico com a finalidade de facilitar o acesso ao conhecimento existente sobre a planta daninha. Nesse documento estão detalhadas as características do Amaranthus palmeri e apresentadas orientações que facilitam a diferenciação entre as espécies, assim como indicações de manejo e de riscos de ocorrência de resistência a herbicidas. “Saber diferenciar a espécie exótica das espécies que já ocorrem no Brasil passa a ser uma importante estratégia, pois caso seja identificada alguma ocorrência, será fundamental sua eliminação antes que ela se espalhe pela região”, explica Gazziero.
A preocupação das autoridades sanitárias também se deve ao fato de a planta ser resistente a herbicidas frequentemente utilizados nas áreas de produção norte-americanas.
Pesquisadores da Embrapa explicam que plantas do gênero Amaranthus são encontradas em várias áreas de produção de grãos brasileiras e conhecidas popularmente como caruru. O problema é que o Amaranthus palmeri é uma planta exótica e pode ser facilmente confundido com outras espécies de caruru, especialmente o Amaranthus spinosus (caruru-de-espinho), comum no Brasil.
Diferenciando as espécies
O pesquisador Dionisio Gazziero, da Embrapa Soja, explica que a identificação correta das espécies presentes nas lavouras é uma primeira etapa para manejar e controlar adequadamente o problema. Entre as características que podem ajudar a assistência técnica e os produtores na diferenciação entre as espécies, uma das mais evidentes é que no A. palmeri os pecíolos (estrutura que liga o caule à folha) têm normalmente o mesmo tamanho ou são maiores que a folha.
Outra característica que diferencia o A. palmeri dos outros carurus é que a inflorescência masculina e feminina ocorre em plantas distintas, e as femininas ao serem tocadas parecem espinhos. De acordo com Gazziero, o A. palmeri possui ampla capacidade de disseminação e o crescimento da planta além de ser rápido pode atingir de um a dois metros de altura. “Seu crescimento acelerado dificulta as aplicações de herbicidas pós-emergentes. Ainda há relatos de que uma única planta pode produzir de 100 mil a um milhão de sementes, dependendo das condições em que se desenvolve”, destaca.
A intercessão entre o caule e a folha (axila) também auxilia na diferenciação dos carurus. Segundo Gazziero, no caso do A. palmeri surge uma estrutura que se assemelha a um espinho, o que difere do formato pontiagudo e rígido das estruturas do Amarantus spinosus.
Alto risco de resistência
Gazziero explica que o controle de A. palmeri pode ser feito por herbicidas, mas alerta que nos Estados Unidos já houve a constatação de resistência da planta daninha a diferentes princípios ativos (glifosato, herbicidas inibidores da ALS, do fotossistema II e dos inibidores da HPPD e da tubulina).
Também já foram identificados casos de resistência múltipla a diferentes mecanismos de ação. “A rápida evolução da resistência aos herbicidas trouxe uma ameaça às alternativas de controle”, analisa. “Por isso, o monitoramento frequente e a identificação precoce, no caso do estabelecimento dessa espécie no Brasil, ajudarão a evitar prejuízos para a agricultura brasileira”, defende o pesquisador.
Os biótipos encontrados em Mato Grosso apresentaram resistência a herbicidas, até mesmo ao glifosato. “Por isso é recomendável que os produtores brasileiros monitorem suas lavouras para que rapidamente possam ser viabilizadas medidas de contenção, no caso da constatação de novos focos de infestação”, ressalta.
Primeiro registro no Brasil
A presença da planta daninha A. palmeri foi confirmada em junho de 2015, no Brasil, pelo Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), durante o monitoramento de lavouras de algodão no estado. Devido à alta agressividade do Amaranthus palmeri, desde o ano passado, os estados de Mato Grosso e Paraná mobilizaram os representantes da cadeia produtiva de grãos para elaborar estratégias de contenção à planta daninha.
Em Mato Grosso, desde a constatação dos primeiros casos da Amaranthus palmeri, foram estabelecidas medidas fitossanitárias, pelo Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT), em conjunto com o Ministério da Agricultura, IMAmt e instituições de pesquisa e ensino, detalhados na instrução normativa Indea nº 86, de 4/12/2015. Ainda assim, existe a possibilidade de disseminação da espécie pelas fronteiras com países vizinhos, principalmente por meio de máquinas, animais silvestres e sementes.
No Paraná, segundo maior produtor de soja brasileiro, depois de Mato Grosso, apesar de não ter havido registro da presença de A. palmeri, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná, a Secretaria Estadual da Agricultura, a Organização das Cooperativas do Paraná, o Ministério da Agricultura e a Embrapa iniciaram um trabalho preventivo com produtores e técnicos.
Lebna Landgraf (MTb 2903/PR) – Embrapa Soja
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