Campo Grande (MS) – Com o crescente aumento no consumo de pescado no Brasil, devido à padronização da qualidade, oferta contínua, preços estáveis e do ganho em popularidade, os projetos de criação intensiva de peixes têm se expandido e chamado a atenção dos Governos.
O Brasil, que ocupa a terceira posição mundial na produção de rações e a quinta na produção de grãos, é responsável por uma das maiores produções de subprodutos da agroindústria, além de ser o país que mais exporta carne. Abundância nos recursos hídricos, clima tropical, conhecimento cientifico e ainda a grande variedade de espécies de peixes encontradas no território nacional auxiliam ainda mais o sucesso deste segmento.
Em Mato Grosso do Sul, segundo avaliação do Secretário de Estado da Produção e Agricultura Familiar (Sepaf), Fernando Mendes Lamas, a tecnologia para criação intensiva de peixe, se comparado ao vizinho Mato Grosso, não teve o avanço que deveria. “Isso aconteceu fundamentalmente devido a uma aplicação equivocada de conceitos”, disse.
Segundo o secretário, especialmente no norte de Mato Grosso há uma condição climática muito mais favorável à piscicultura – baseada em pacu, pintado, tambacu, tambaqui – por que naquela região não há temperaturas tão baixas como aqui. Contudo, chamou a atenção dele, há alguns dias, um alerta dos institutos de meteorologia, destacada nos telejornais, para uma excepcional amplitude térmica, que vem ocorrendo em Nova Xavantina, município a beira do Rio Araguaia, aonde os termômetros chegaram a registrar temperaturas entre 10º e 30º num mesmo dia.
No período entre abril até julho, não há uma condição tão favorável para pintado, pacu, tambacu, tambaqui, no Sul do Estado, e favorável no norte, afirma Lamas. Para ele, o Estado precisa promover discussões e organizar-se de forma a regionalizar a criação de peixes. “Devemos definir, através de pesquisas, onde é bom pra criar tilápia, tambacu, pintado, pacu, e fomentar a atividade em cada região. Se for criar pintado em Dourados, por exemplo, é possível perder um pouco de competitividade com Mato Grosso por que eles têm condição climática favorável e tem escala de produção”, explicou.
Lamas destacou ainda que Mato Grosso do Sul tem grande potencial para produção de pescado, sendo que na região norte – de Campo Grande para cima – há especial condição para os peixes de couro – pacu, pintado, entre outros – e mais ao Sul do Estado, ele acredita que hajam melhores condições para criação de tilápia, por exemplo, que é uma espécie que se adapta bem as temperaturas um pouco mais baixas.
Para toda atividade, na opinião do secretario, o que faz a diferença são os detalhes, as pequenas coisas. “No caso da produção de peixes, as mudanças nas temperaturas, causam uma redução na taxa de conversão alimentar. Por menor que seja essa redução – considerando que o preço da ração é relativamente alto – isso faz toda diferença”. Segundo sua explicação, no período em que os peixes passam por uma conversão alimentar, e precisam comer mais para produzir a mesma quantidade de carne, o custo aumenta podendo perder na concorrência com outros estados.
“Temos potencial, mas precisamos organizar melhor a cadeia no Estado”, enfatizou Lamas, destacando que nos próximos meses o Estado deve ser parceiro de outras instituições na discussão sobre o tema. “Estamos pensando num evento envolvendo a academia, órgãos e empresas ligadas a cadeia da pesca, para discutir a piscicultura e elencar diretrizes, evitando a disseminação da visão equivocada de que a atividade não é uma boa ideia para o Estado”, completou.