Campo Grande (MS) – Com o objetivo de entender o comportamento dos javalis e como os mesmos fazem o uso do ambiente, o biólogo e bolsista da Embrapa Pantanal, Dr. Fernando Ibanez Martins, coordena desde 2014 o projeto “Atividade, Movimentação e Uso do Espaço por Javalis em Agroecossistemas de MS”.
O Projeto que tem o apoio do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul por meio da Fundect, em parceria com a Embrapa e CNPq, conta com a participação de biólogos, zootecnistas e médicos veterinários que através da pesquisa pretendem compreender aspectos da ecologia espacial dos javalis para auxiliar nas estratégias de controle da espécie.
O Javali é o ancestral do porco doméstico, ambos pertencem à mesma espécie (Sus scrofa). Foi a partir da domesticação dos javalis selvagens que o ser humano desenvolveu as linhagens de porcos domésticos. A distribuição original do javali abrange a Europa, Ásia e norte da África. Relatos indicam que os primeiros javalis puros chegaram ao Brasil através do Uruguai, invadindo o estado do Rio Grande do Sul após forte período de seca registrado no fim dos anos 80.
Outro fator que contribuiu para a disseminação no país foi a aquisição e transporte de javalis por pessoas que tentaram domesticar a espécie exótica, ação frustrada, pois o animal é agressivo e de difícil manejo.
Alguns animais que escaparam dos criadouros tornaram-se ferais e reproduziram com porcos domésticos, dando origem à linhagem híbrida conhecida como “javaporco”. Os javaporcos apresentam elevada capacidade reprodutiva, pois a genética do porco doméstico foi selecionada pelo homem para um alto desempenho reprodutivo. Cada fêmea reproduz em média duas vezes por ano e a ninhada chega a 12 filhotes.
Estas características reprodutivas associadas à elevada disponibilidade de alimento nas áreas agrícolas favorecem um alto crescimento populacional de javalis e javaporcos, problema de escala mundial que tem se transformado em uma grande dor de cabeça para os agricultores. Os animais formam grupos, que pode conter mais de uma dezena de indivíduos, e invadem as lavouras em busca de alimento.
No ano de 2007 o javali estava presente em sete municípios de Mato Grosso do Sul. Atualmente existem registros da espécie em 46 municípios. Trata-se de uma invasão rápida e de larga escala, sem precedentes na história do estado. Na região sul do MS, onde se concentra a pesquisa, existe grande número de lavouras de cana de açúcar, soja e milho safrinha; três dos alimentos preferidos destes animais.
De acordo com produtores rurais de Rio Brilhante, o dano causado pelos animais pode chegar a 30% em alguns talhões.
“Além dos fatores econômicos, o crescimento populacional dos javalis e javaporcos implica em danos ambientais e sanitários. Eles predam espécies nativas, destroem nascentes e podem transmitir doenças nocivas aos rebanhos do estado (dentre elas a peste suína clássica, febre aftosa e brucelose). Nosso estudo consiste em capturar os javalis e javaporcos através de armadilhas, instalar coleiras de GPS telemetria nos indivíduos e monitorá-los em campo.
A definição dos ambientes mais utilizados, das zonas de refúgio e de alimentação auxiliará nas ações de controle, indicando regiões de maior susceptibilidade dos animais. Ao final da pesquisa, os dados obtidos serão compartilhados com produtores e sindicatos rurais do sul do estado, com o objetivo de orientar a população local sobre as estratégias mais eficientes para captura de javalis e javaporcos”.
Vale lembrar que, devido aos riscos sanitários e ambientais, existe desde 2013 uma instrução normativa do Ibama regulamentando o abate de javalis e javaporcos para fins de controle.
Texto: Fundect
Foto: Divulgação