Pesquisa da Embrapa concluiu que a praga, que teve crescimento populacional mais significativo nesta safra, tem comportamento diferenciado durante períodos mais amenos
Segundo o Pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste, o entomologista, Crébio José Ávila, embora hoje no sistema de produção de soja exista a preocupação com a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), helicoverpa armigera e a lagarta da maça (Heliothis virescens), a que tem deixado os produtores em alerta mesmo é a falsa-medideira (Chrysodeixis includens).
Conforme o pesquisador, a ocorrência de chuvas excessivas – prejudicial em outros aspectos da produção – auxilia, relativamente, no controle da falsa-medideira pois levados pela chuva, ovos e lagartas pequenas deixam de oferecer riscos a leguminosa.
“Entretanto agora que tivemos essa pausa nas chuvas – há alguns dias – estamos observando um surto bem crescente da falsa-medideira nas lavouras de soja. No passado essa lagarta não era problema, mas hoje, é seríssimo e se o produtor não cuidar ele pode ter prejuízos significativos”. Alerta Crébio.
A Embrapa tem diversas áreas onde faz manejo de percevejo e lagarta em Mato Grosso do Sul. Segundo o pesquisador, nesta safra, no trabalho desde a dessecação até a colheita, tem sido observado um crescimento populacional intenso da falsa medideira.
No monitoramento, feito através do contato constante com as instituições parcerias -Fundações MS e Chapadão – Crébio comentou que a explosão populacional desta lagarta tem causado preocupação devido a dificuldade do controle.
“Enquanto a lagarta da soja fica no topo superior da planta, a falsa-medideira fica no baixeiro da planta, ou na parte mediana, predominantemente. Então, quando se aplica o inseticida, se não for utilizada a tecnologia adequada, um bico leque simples, por exemplo, todo o inseticida vai ficar depositado no topo da planta e o produto não vai ter a eficácia desejada”. Explica.
Num trabalho desenvolvido recentemente pela Embrapa, foi observado que os ovos, a lagarta pequena e a lagarta grande concentram-se predominantemente na parte mediana e na parte do baixeiro da planta. Contudo durante as horas mais amenas do dia, a partir das 6 horas da tarde – até às 9 horas da noite – as lagartas sobem para o topo superior da planta da soja, para se alimentar. Principalmente as maiores.
Nessa condição, onde as lagartas estão mais expostas, segundo Crébio, é o momento mais adequado para fazer a pulverização. “O trabalho noturno é muito mais eficiente do que durante o diurno onde as lagartas estão menos acessíveis, no baixeiro da planta”. Completa.
Segundo o pesquisador, hoje, o mercado dispõe de vários produtos com comprovada eficiência no controle desta praga. Os fisiológicos (de ação mais lenta, mas tem residual maior), os que têm efeito de choque (quando se aplica observa-se um efeito mais imediato), as diamidas, as espinozinas, carbamatos e um mais recente Indoxacarbe, que também tem apresentado bons resultados contra a falsa medideira.
Crébio explica que para dar um efeito de choque e garantir um efeito residual, alguns produtores aplicam um produto que derruba a lagarta e depois um produto fisiológico.
Na pesquisa citada pelo Doutor Crébio além de observar o comportamento da lagarta no perfil das plantas de soja, foi feito um estudo com as armadilhas de feromônio, onde caem os adultos, tentando correlacionar a população adulta, com a população de ovos e de pequenas lagartas.
“O objetivo deste estudo é encontrar correlação para posteriormente orientar o controle baseado nas capturas de feromônio, que coletamos no adulto. A pesquisa ainda não conseguiu esse ajuste, mas segue com a ideia de que no futuro [ao conseguir essa correlação] se possa, a partir do número de mariposas encontradas na armadilha de feromônio, orientar o produtor para que dali a sete dias ele comece o controle”.
Durante essa pesquisa também foram testados vários tipos de bicos para controle da falsa-medideiracomo: Cone cheio, cone vazio, bico leque, bico leque duplo, com pressão normal, com pressão elevada onde ficou constatado que o bico mais eficiente para controle da falsa-medideira tem sido o bico cone.
“Ao utilizar o bico leque, se não houver indução de ar, grande parte do produto fica em cima da folha. O bico cone quebra mais a gota, que borbulha, ventila e desce para a parte mediana e inferior, onde a lagarta mais se concentra”. Explicou.
O monitoramento, que é realizado com maior intensidade na região da Grande Dourados, é feito com base na troca de informações, aproveitando o estreito relacionamento que a empresa mantem com a Fundação Chapadão, Fundação MS.
“Estamos sempre em contato, trocando informações para tentar balizar, formar opinião e buscar juntos, as soluções”.
Caminhando para o final do ciclo da soja – onde ainda são observadas vagem se enchendo, outras já bem amarelas, outras dessecadas ou prontas pra colher – a preocupação fica para a que está mais atrasado nesse processo. “Se o produtor não tomar cuidado a falsa-medideira pode causar grandes estragos”. Alerta.
Mesmo com a baixa incidência de helicoverpa armigera – graças ao controle biológico natural que foi bastante intenso e tem segurando explosão populacional dessa praga – o pesquisador não deixa de destacar a importância do seu monitoramento.
Ávila também falou do trabalho conjunto das instituições de pesquisa, poder publico e representativas do setor produtivo, que garantiram informações para um manejo adequado.
Lagarta falsa-medideira
A Pseudoplusia includens, mais conhecida como falsa-medideira, se caracteriza por ter ovos brancos, achatados, circulares e estriados. A lagarta é verde-clara, possui várias linhas brancas longitudinais. Ao eclodirem são muito claras. Passam por cinco fases de desenvolvimento, chegando a 30mm de comprimento. As lagartas se locomovem tipo mede-palmo, apresentando três pares de patas torácicas, dois pares de pseudopatas e um par abdominal. Lagartas desenvolvidas tecem casulos com fios brancos presos as folhas, nos quais se transformam em pupas. Quando adulta tem as asas anteriores das mariposas com 28mm de envergadura, e apresentam uma coloração cinza-escura com uma mancha prateada na porção mediana semelhante a um oito. A pupa de coloração inicial verde torna-se marrom antes da emergência do adulto.
Os sinais de alimentação das lagartas da Falsa-medideira são diferenciados de outras desfolhadoras por apresentarem uma característica de iniciarem sua alimentação pelo centro da folha, formando orifícios de formas circulares. Muitas vezes as desfolhas provocadas pela Falsa-medideira são iniciadas pelas folhas mais velhas, localizadas no terço inferior das plantas, o que dificulta seu controle. À medida que crescem as populações e as desfolhas do terço inferior tornam-se severas, passam a desfolhar os terços médio e posteriormente o terço superior das plantas atacadas.
Kelly Ventorim, Assessora da Secretaria de Produção e Agricultura Familiar (Sepaf)