Mercado de biodefensivos deve crescer 20% até 2020

  • Publicado em 12 nov 2015 • por Iza Olmos Rodrigues de Lima •

  • O controle biológico, em complemento ao químico, é tendência mundial para a estratégia de sustentabilidade e representa os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e doenças. O Brasil é um exemplo de sucesso no uso de biodefensivos, principalmente com produtos à base deBacillus thuringiensis, Baculovírus, Metarhizium, Trichoderma e Cotesia, entre outros. No entanto, este mercado representa menos de 2% dos produtos de proteção de cultivos, segundo estimativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que projeta aumento de participação do setor para 20% até 2020.

    “Os altos investimentos no desenvolvimento de um novo defensivo químico, estimados em US$ 256 milhões, aliados à maior demanda da sociedade e dos órgãos reguladores por alimentos sem resíduos, têm aberto um grande espaço para o mercado de produtos biológicos, cujas vendas devem crescer entre 15% e 20% nos próximos anos”, afirma Pedro Faria Júnior, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio).

    O executivo lembra que o controle biológico representa 30% do mercado mundial de proteção de cultivos.  Esse mercado tem crescidoa taxas cinco vezes superiores à indústria de defensivos químicos. Segundo dados da CPL Business Consultantes, de 2011 a 2014, a evolução média anual foi de 15,3%.

    Os altos investimentos no desenvolvimento de um novo defensivo químico e a maior demanda da sociedade e dos órgãos reguladores por alimentos sem resíduos tem aberto um grande espaço para o mercado de produtos biológicos, ressalta Pedro Faria Júnior, presidente da ABCBio. Foto: Divulgação

    No ano passado, a receita global de vendas desse segmento alcançou US$ 12 bilhões, segundo Gustavo Herrmann, vice-presidente da ABCbio. Embora não haja uma estatística sobre o setor, no Brasil, o executivo estima faturamento anual entre US$ 120 milhões a US$ 150 milhões, o equivalente a 1% do mercado mundial.

    “A expectativa é que nesta safra o setor supere os 15% obtidos nos últimos três anos”, projeta Herrmann e acrescenta que soja, milho, algodão e cana-de-açúcar são as culturas que apresentam maior potencial de avanço dos biodefensivos.

    Segundo a ABCBio, 51 empresas são detentoras de registro de 118 produtos biológicos comerciais no Brasil (incluindo 36 emergenciais), sendo 83 microbiológicos (fungos, bactérias e vírus), e 35 macrobiológicos (parasitas, predadores e parasitoides).

     

    “A expectativa é que nesta safra o setor (de biodefensivos) supere os 15% obtidos nos últimos três anos”, projeta Gustavo Herrmann, vice-presidente da ACBio. Foto: Divulgação

    INTERESSE

    O segmento foi favorecido ainda pela grande importância dos produtos de controle biológico no tratamento de graves problemas fitossanitários surgidos em algumas culturas no Brasil.

    “O exemplo mais marcante foi o aparecimento da Helicoverpa armigera, que já causou enormes prejuízos aos agricultores brasileiros e cujo controle só foi conseguido graças à introdução de inseticidas microbiológicos e de insetos parasitoides no plano de manejo de pragas”, atesta o presidente da ABCBio.

    De acordo com professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), José Roberto Postalli Parra, o relato de Helicoverpa armigera no País, em 2012/2013, despertou o interesse pelo controle biológico.

    “A partir de então, as multinacionais que atuam na proteção de cultivo começaram adquirir pequenas empresas desse segmento e deverão liderar, em futuro próximo, o controle biológico de pragas”, prevê.

    José Roberto Postalli Parra, professor da Esalq/USP, acredita que as multinacionais do setor de defensivos químicos vão liderar o controle biológico. Foto: Gerhard Waller/Divulgação USP/Esalq-Acom

    “Todas as grandes multinacionais estão na associação. Elas (as multinacionais) compraram empresas e é uma questão de tempo para esse mercado crescer”, acrescenta Faria Jr.

    Conselheiro da associação, Ari Gitz, no entanto, afirma que um dos entraves para a entrada de multinacionais no setor é a falta de uma regulamentação eficaz, que impeça a entrada de produtos não registrados nesse mercado. Mesmo com problemas a serem solucionados, os biodefensivos vivem uma nova fase no Brasil, com a alteração na legislação de registro, em janeiro do ano passado, que autorizou a indicação de uso nas bulas e rótulos apenas do alvo biológico, ampliando o número de culturas que comportam o manejo biológico.

    Faria Jr. lembra que o nível de investimentos em pesquisa e desenvolvimento é muito baixo comparado aos defensivos químicos. “Essa virada só virá através de investimento, pesquisa e investimentos”, argumenta.

     

    MAIOR DO MUNDO

    O Brasil possui o maior projeto de controle biológico do mundo, com a cana-de-açúcar. Atualmente, a Esalq desenvolve um grande programa de controle biológico nessa cultura e, de acordo com o professor Parra, metade da área com cana é controlada por insetos, contra a broca (Diatraea saccharalis), e por fungo, contra a cigarrinha-da raiz (Mahanarva fimbriolata).

    “No País, mais de três milhões de hectares de cana-de-açúcar são tratados com Cotesia flavipes, parasitoide larval de Diatraea saccharalis, e mais 500 mil ha tratados com Trichogramma galloi, parasitoide de ovos da mesma praga. Também utiliza-se o fungo Metarhizium anisopliae contra a cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata, em cerca de dois milhões de hectares dessa cultura”, calcula Parra.

     

    DESAFIO

    O pesquisador Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo (MG), afirma que os biológicos são uma opção, junto com os defensivos agrícolas, com a vantagem de agir no controle de pragas por meio de inimigos naturais, feromônios, bactérias, vírus e extratos ou óleos vegetais. Porém, ele credita que um dos maiores desafios do controle biológico é a sua aplicação em grandes áreas, “o que está sendo contornado com pesquisas envolvendo liberações por aviões, motos e drones”.

    “Onde há igualdade na eficiência, disponibilidade comercial (ou produção própria de agentes biológicos) e assistência técnica adequada, os produtos biológicos representam a melhor opção e ainda têm o apelo de tecnologia limpa”, comenta Cruz.

    Por equipe SNA/SP

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