A ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, lançou na terça-feira (3) um sistema que reúne, pela primeira vez, dados consolidados sobre a qualidade da produção de leite do Brasil. Os resultados, a partir de agora, serão atualizados semanalmente e permitirão o acompanhamento atualizado e a formulação de políticas públicas. O sistema também contribuirá com a definição de estratégias das empresas, permitindo melhorar a competitividade da cadeia produtiva do leite brasileiro, cujo faturamento deve chegar a R$ 70 bilhões em 2015.
O Sistema de Monitoramento da Qualidade do Leite Brasileiro (SIMQL) inclui um software desenvolvido pela Embrapa em conjunto com as Secretarias de Defesa Agropecuária, da Produção e Cooperativismo e a área de informática, todas do Ministério da Agricultura. Entre o planejamento do sistema e seu lançamento foram necessários sete meses. Um dos primeiros impactos é que o Mapa evoluirá de 3 milhões para cerca de 50 milhões de amostras de leite das propriedades analisadas mensalmente, com mapas de produção e qualidade atualizados semanalmente.
O lançamento atende a uma demanda antiga do setor leiteiro. Dez laboratórios, distribuídos por todo o País, formam a Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL). Eles fazem análises do leite por produtor, usando amostras coletadas no máximo a cada mês. Com base nos resultados, é definido o valor a ser recebido pelo produtor. O chefe-geral da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), Paulo Martins, diz que “os dados disponíveis até agora não geravam informações. Eles eram apurados isoladamente e não havia um sistema que os organizasse de maneira a permitir uma observação mais qualificada do leite que estamos produzindo no País”.
Paulo Martins explica que “agora passamos a cruzar dados diferentes de maneira bastante amigável”. Na prática, isso significa que “vai ser possível ter noção da qualidade do leite em regiões, mesorregiões, microrregiões e município”. As instruções normativas relacionadas à qualidade do leite no Brasil serão baseadas em dados atualizados e muito detalhados. Outra vantagem é que será possível simular parâmetros e identificar como estes afetam a produção.
Um dos benefícios relevantes do novo sistema é que políticas públicas de intervenção na qualidade terão muito mais precisão. O Mapa já está planejando fazer políticas de transferência de tecnologia e assistência técnica de maneira mais precisa em regiões em que haja necessidade de melhoria. Também será possível monitorar o desempenho dos dez laboratórios credenciados para os testes.
Num primeiro momento o sistema será utilizado por uma comissão com representantes do governo e setor privado. É ela quem vai discutir níveis de acesso às informações.
Com cerca de 1,3 milhão de produtores, o leite é o único produto presente em praticamente todos os municípios – somente 60 não o produzem. “Temos um divisor de águas na formulação de políticas públicas. Saímos da era do achismo e colocamos o leite na sociedade do conhecimento”, avalia Paulo Martins.
O Programa
A Qualidade do Leite é um dos sete pilares do Programa Leite Saudável, do Mapa, estruturado a partir de demandas do setor produtivo dos últimos 15 anos. Resultado desse pilar, o SIMQL irá gerenciar os dados registrados pelos laboratórios da RBQL.
Com o sistema é possível saber como está a qualidade do leite nas diferentes regiões do Brasil, consultado as variáveis CBT (contagem bacteriana total), CCS (contagem de células somáticas), teor de gordura, teor de proteína, lactose, extrato seco e extrato seco desengordurado. O filtro da consulta é aplicado sobre um determinado período, que pode ser de um mês ou um ano específico.
O sistema tem a capacidade de gerar análises até o nível de municípios, dentro de cada uma das microrregiões do Brasil. Também permite consultar a quantidade de amostras recebidas por laboratório da RBQL e o percentual de amostras desconsideradas por não conformidades.
Essas informações permitem identificar as regiões mais críticas e que demandam ações voltadas à melhoria de qualidade. Possibilitam também a adoção de estratégias de inteligência de negócios pelos laticínios, que poderão tomar decisões a partir do conhecimento da qualidade do leite entregue por seus produtores, em cada uma das unidades fabris, e comparada a outras indústrias.
RBQL
Os laboratórios que compõem a rede estão instalados em universidades e Unidades da Embrapa. Todos são credenciados pelo Mapa e avaliam, pelo menos uma vez por mês, a qualidade do leite entregue aos laticínios por cada produtor, de acordo com as exigências da Instrução Normativa 62.
Desenvolvimento do Sistema SIMQL
O Sistema de Monitoramento da Qualidade do Leite Brasileiro foi desenvolvido em apenas sete meses, saltando de uma base de 3 milhões para 48 milhões de dados. Foram envolvidas as equipes técnicas da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e da Secretaria do Produtor Rural e Cooperativismo (SPRC), que atuaram em conjunto com pesquisadores da Embrapa Gado de Leite e do Departamento de Tecnologia da Informação (DTI) da Embrapa.
Próximas etapas
A modelagem do SIMQL permite construir novos módulos para cruzamento de dados dos laboratórios com dados do IBGE. Será possível ainda que os dados sirvam de base para o Plano Nacional de Qualidade do Leite (PNQL), a ser construído pelo Mapa, em conjunto com o setor produtivo e a academia.
Boas práticas
Ao comentar sobre o lançamento do SIMQL, o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, lembrou que a Empresa foi capaz de abraçar o desafio de aumentar a qualidade do leite brasileiro com competência e eficiência. “Desenvolvemos um sistema de gestão de dados e informações num espaço de tempo muito curto, de pouco mais de sete meses, e passamos a gerar o conhecimento que permite monitorar a produção tanto na dimensão espacial quanto na temporal, e acompanhar a dinâmica e a trajetória do produtor brasileiro na melhoria da qualidade do leite”.