Com um mês de antecedência na comparação com a safra passada, a ferrugem asiática – doença causada pelo fungo P. Pachyrhizi – “chega” oficialmente às lavouras comerciais de soja no Paraná. Os inóculos do fungo foram identificados em áreas das cidades de Tibagi e Ponta Grossa, nos dias seis e sete de novembro, respectivamente. O primeiro caso deste ano surgiu em Itaberá (SP), na semana passada. Em 2014, o primeiro foco apareceu no Estado no dia 03 de dezembro. Todas essas lavouras com fungo foram semeadas logo após o vazio sanitário, período de três meses de ausência total de plantas vivas da oleaginosa, encerrado no dia 15 de setembro. Os números foram compilados pelo Consórcio Antiferrugem, por meio da Fundação ABC.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudia Godoy, havia uma expectativa da antecipação no aparecimento da ferrugem, em decorrência do fenômeno El Niño, que provoca chuvas irregulares no Sudeste e no Centro-Oeste, atraso nas chuvas na região Nordeste e precipitações acima da média para a região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Nesses dois estados do Sul, em que geralmente o inverno elimina as plantas remanescentes, “a soja guaxa ou voluntária (como é chamada) pode ter favorecido a ocorrência precoce da doença, já que os inóculos ficam nestas plantas e atacam as primeiras lavouras comerciais da safra”.
Os registros de ocorrência da ferrugem em soja voluntária são grandes. São 30 focos totais nos estados do Rio Grande Sul e Santa Catarina, e mais 15 no Paraná. “O fungo sobreviveu na soja guaxa e assim, se torna uma fonte de inóculos para atingir as sojas comerciais que já estão no campo. Rio Grande do Sul e Santa Catarina não têm vazio e esperam que as geadas matem essas plantas, mas este ano isso não aconteceu. O inverno pouco rigoroso não teve temperaturas suficientemente baixas para eliminar tal soja”, explica a pesquisadora.
Com isso, os produtores que já confirmaram as áreas com ferrugem precisam começar as aplicações de fungicidas. Como nestes casos as áreas foram plantadas de forma bastante precoce, as plantas já estão na fase de florescimento e o controle da doença é mais simples, com uma ou duas aplicações, segundo a pesquisadora. Entretanto, quem plantar a partir de agora, pode acabar lidando com a doença mais cedo, com o fungo mais resistente e maior dificuldade de controle. “Quando se estende a janela de semeadura, a soja que é plantada antes vai produzindo inóculo para as próximas, o que pode impactar nos produtores que semeiam mais tarde. Essa grande quantidade de inóculos faz com que o número de aplicações aumente e o intervalo delas seja menor”.
A orientação é para que os produtores redobrem os cuidados de monitoramento e adotem a melhor opção de manejo dependendo da região. Os produtores podem acompanhar os relatos da doença pelo site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net). Uma novidade é o aplicativo do Consórcio que pode ser baixado para aparelhos iOS. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura (Seab), a expectativa é que o Paraná produza 18 milhões de toneladas na safra 2015/16, cerca de 6% a mais do que o período anterior. A área total é de 5,2 milhões de hectares, elevação de 3%.
Soja safrinha
Com a expectativa da última temporada de soja safrinha no Paraná, já que o governo estadual deve encerrar o plantio em 1º de janeiro de 2017, este deve ser mais um momento de grandes aplicações para controlar a ferrugem, já que a semeadura acontece entre janeiro e fevereiro em algumas regiões do Estado. “Quem semear em janeiro de 2016 vai pegar uma quantidade de inóculos muito alta. O grande problema é aumentar o número de aplicações com poucos fungicidas disponíveis no mercado, fazendo pressão de seleção para a resistência desses fungicidas. No ano passado, os produtores chegaram a seis aplicações. É praticamente uma soja que nasce com a doença”, complementa a pesquisadora.