Adoro nêsperas e tenho pena de que esta árvore seja tão mal amada entre nós. As suas utilizações terapêuticas são pouco conhecidas e a importância das suas flores pouco valorizada. No entanto tenho encontrado algumas pessoas mais velhas que utilizam as suas folhas em infusões ou decocções.
O seu nome científico é Eryobotrya japónica.
Contrariamente ao que indica o seu nome é originária da China e não do japão. Teria sido mais tarde levada para lá e também para a Índia, Europa, etc. Na Medicina Tradicional Chinesa as nêsperas são ainda bastante utilizadas em xarope para inflações da garganta.
Existe em Portugal alguma confusão em relação ao nome deste fruto que dispensa apresentação. Pois acontece que na região do Minho chamam às nêsperas magnórios. Na origem deste nome estará o botânico francês, Pierre Magnol (1638-1715) de onde vem também o nome das magnólias como é óbvio.
E então a árvore dos magnórios? Pois é, muita gente não saberá mas a nossa nespereira, a norte dos país é conhecido por Magnoeiro. Já o nome de nêspera tem origem no grego méspilos. A nespereira é hoje cultivada um pouco por todo o mundo, desde África até á Austrália
Os maiores produtores de nêspera são o Japão, onde existem cerca de 800 variedades, seguido de Israel e do Brasil onde é também conhecida por ameixa- amarela-amarela.
Descrição botânica
Árvore da família das Rosáceas, de porte médio, podendo atingir cerca de 10 metros (encontrei na zona do Douro alguns exemplares de porte bastante grande), as folhas perenes estão disposta de forma alternada, são coriáceas, medem entre 10 a 18 cm, verde escuras na margem superior e mais claras e na margem inferior. Cachos de flores brancas muito perfumadas que florescem normalmente no fim do outono, sendo portanto de extrema importância para as abelhas já que nessa estação existe menos abundância e variedade de flores .
Os frutos surgem na Primavera, são redondos e cor-de-laranja, pele muito fina, polpa suculenta e bastante doce quando bem maduros, caso contrário são ácidos, as sementes são grandes, castanhas e viscosas, cada fruto pode conter 1 a 5 caroços (sementes).
Muito resistente à salinidade.
Quando enxertada em marmeleiro torna-se mais robusta e dá frutos mais cedo.
Quando os ramos tiverem demasiados frutos ou flores convém desbastá-los.
Constituintes e propriedades:
Para fins medicinais podem utilizar-se as folhas, a casca dos ramos, os frutos e com alguma moderação as sementes tostadas e moídas.
As folhas são adstringentes e antioxidantes, analgésicas, antibacterianas e expetorantes. Contêm oxalato de cálcio, mucilagens e compostos fenólicos. Os frutos são ricos em pectina, açucares, vitaminas e sais minerais, muito ricos em ferro, magnésio e cálcio, vitamina A, C, B1, B6 e B12.
As utilizações medicinais mais comuns em Portugal, são em infusão ou decocção das folhas secas ou frescas (cerca de 4 a 7 folhas secas para um litro de água ou cerca de 1º a 13 folhas frescas cortadas em pequenos pedaços). Usam-se principalmente em casos de diabetes ou colesterol elevado. É também usada para aliviar problemas de inflamações da pele ou pedra nos rins misturada com barbas de milho e alfavaca-de-cobra. Usa-se também no alívio da tosse, da diarreia e como desintoxicante do fígado.
Graças aos seus constituintes polifenólicos é antiviral.
As folhas em gargarejos aliviam dores de garganta e inflamações da boca e das gengivas. E bem lavadas para eliminar uma espécie de penugem que poderá irritar a garganta.
Alguns estudos revelam ainda a sua possível utilização no tratamento de VIH.
O extrato das folhas e o fruto são regeneradores das células do pâncreas.
O xarope de nêsperas é um remédio popular em muitos países do Oriente para tratar a tosse usando-se ainda no fabrico de compotas e licores. É ligeiramente sedativo e adstringente.
As suas flores também podem ser usadas em xarope antitússico e expetorante e ainda para aromatizar bebidas.
As sementes secas, tostadas e moídas podem ser utilizadas na confeção de uma bebida semelhante à chicória. Já foram feitas experiências numa universidade brasileira sobre o uso deste subproduto que é o caroço da nêspera para a confeção de farinha rica em fibras. Esta farinha foi depois incorporada na confeção de barrinhas energéticas e saudáveis.
Espero, com este artigo ter conseguido de alguma forma elevar o estatuto desta árvore tão bem adaptada ao nosso país mas por nós tão mal amadas.
FERNANDA BOTELHO, portal do Jardim