A divulgação de detecção de novas pragas, duas espécies de insetos e uma espécie de planta daninha, que ainda não eram conhecidas no Brasil, tem recebido destaque em diversos meios de comunicação.
As informações disponíveis até o momento indicam que tratam-se de pragas de ocorrência regionalizada e associadas a condições pontuais, não representando um risco generalizado para a produção de soja no Brasil a curto prazo.
Trata-se porém de tema relevante e que merece atenção da cadeia produtiva da soja como um todo, incluindo agricultores, profissionais do agronegócio, indústria de agrotóxicos, pesquisadores e gestores públicos.
Tais informações devem ser consideradas como um alerta para o monitoramento constante da lavoura, no entanto, tais anúncios não devem causar pânico entre os agricultores.
Muito provavelmente as pragas e plantas daninhas que deverão causar maior preocupação durante a safra sejam, na maioria dos casos, as mesmas que os agricultores estão habituados ao longo dos anos, como percevejos, lagarta-falsa-medideira, lagarta-da-soja, ferrugem da soja, buva, capim amargoso, entre outras, as quais ocorrem de forma generalizada e oferecem reais riscos de perdas da lavoura.
O Brasil passou recentemente por uma experiência de detecção de uma praga exótica, a Helicoverpa armigera, para a qual foi dado amplo destaque pelos diferentes setores da cadeia produtiva de soja, demandando esforço e dedicação de muitas instituições na busca do controle dessa praga.
Paralelamente, houve gastos excessivos com inseticidas pelos agricultores, que foram estimulados a realizar pulverizações por vezes preventivas para a praga e, em muitos casos, acima da real necessidade.
Por fim, apesar de amplamente distribuída no Brasil, à praga só se mostrou importante em algumas regiões bem delimitadas, enquanto os maiores problemas enfrentados pelos agricultores foram com insetos-pragas já conhecidos como a lagarta-falsa-medideira e percevejos.
Visando contribuir para esclarecer o anúncio dessas três novas pragas foi elaborado esse comunicado. A primeira delas trata-se de uma nova espécie de lagarta do gênero Helicoverpa que tem potencial de atacar as folhas e vagens da soja; a segunda, de uma espécie de mosca, cujas larvas se desenvolvem no interior da haste das plantas de soja; e a terceira, de uma espécie de planta daninha. Helicoverpa punctigera: Embora amplamente divulgada, a presença da lagarta Helicoverpa punctigera no Brasil ainda não foi confirmada.
Uma equipe de especialistas de diversas instituições, organizados pelo MAPA, estão estudando de forma detalhada esse caso, pois foi encontrado apenas um inseto com características semelhantes à Helicoverpa punctigera, na região noroeste do Ceará.
Devido à variabilidade genética e morfológica, mais amostras são necessárias para confirmar se trata-se de uma nova espécie ou um alarme-falso.
Enquanto que, comparativamente, a Helicoverpa armigera, antes de ser detectada no Brasil, estava espalhada por todos os continentes (exceto as Américas) a Helicoverpa punctigera tem sua ocorrência restrita à Austrália e Nova Zelândia, o que reduz as chances de introdução no Brasil. Enquanto Helicoverpa armigera era considerada de médio risco (+++) como praga exótica, a Helicoverpa punctigera é considerada de baixa risco (++), indicando que, se confirmada sua presença no Brasil, deverá representar menor risco do que Helicoverpa armigera. Mosca-da-haste-da-soja: A ocorrência dessa mosca já é conhecida no Rio Grande do Sul desde 1983.
A novidade é que, a partir de levantamentos mais detalhados, chegou-se a identificação de uma das espécies desse grupo de praga. Desde seus primeiros registros, considera-se que seja uma praga esporádica e associada mais frequentemente à soja tardia. Recentemente, com o aumento da área cultivada com soja segunda safra (soja safrinha), a praga passou a chamar mais atenção.
Em um levantamento realizado no estado do Paraná na safra 2014/2015, constatou a presença da praga em soja safrinha e em soja voluntária (soja “tiguera”). Para a safra 2015/2016, tanto lavouras de soja plantadas cedo quanto lavouras tardias serão monitoradas para verificar a ocorrência dessa praga e a necessidade de estudos mais detalhados.
Associado a essa praga foram detectadas também pelo menos duas espécies de microhimenópteros parasitando a mosca na fase de larva, dentro da haste de soja, contribuindo assim para o seu controle biológico. Amaranthus palmeri: Plantas do gênero Amaranthus, conhecidas popularmente como caruru, são encontradas comumente nas áreas de produção de grãos em todo o mundo inclusive no Brasil, onde já foram detectados biótipos resistentes a herbicidas para, pelo menos, duas espécies.
Recentemente, foi registrada a presença de Amaranthus palmeri na região Centro Norte do estado do Mato Grosso, causando grande preocupação ao meio rural por tratar-se de uma planta exótica extremamente agressiva com risco potencial de reduzir a produtividade de soja e algodão em até 80% e, do milho, em até 91%. O A. palmeri pode ser facilmente confundido com outras plantas que vegetam no Brasil, especialmente o A. spinosus (caruru de espinho).
Em Amostras de A. palmeri coletadas no Mato Grosso em um projeto de extensão realizado pelo IMAmt, UNIVAG e UFMT foram identificados biótipos resistentes aos herbicidas glifosato, pyrithiobac-sodium e clorimuron-ethyl. A partir dessa constatação, o INDEA-MT baixou a Instrução Normativa N0 047/201 que estabelece medidas fitossanitárias para contenção e erradicação dessa praga.
Essas medidas se mostraram eficazes e a espécie se encontra sob controle. No entanto, é recomendável que o produtor monitore sua lavoura para que essa e as demais pragas potenciais não se transformem em pragas importantes como as que já estão presentes a mais tempo no Brasil.
Embrapa Soja 13 de outubro de 2015