A agricultura atual é muito mais complexa do aquela praticada a quarenta anos, quando o Brasil era um grande importador de alimentos básicos para dieta dos brasileiros, como, por exemplo, arroz e feijão.
Hoje, somos grandes exportadores de carnes, fibras, grãos, açúcar, cacau, café dentre outros produtos agropecuários. É graças à competitividade de nossa agricultura, que se deve fundamentalmente às tecnologias disponíveis e à capacidade empreendedora do agricultor brasileiro, que a agricultura continua contribuindo com o superávit da balança comercial brasileira.
Pelo o que se percebe através dos diversos relatórios produzidos por órgãos e entidades especializadas, o negócio agropecuário está bem. E o produtor rural brasileiro está bem?
Se tomarmos como base os custos de produção disponibilizados, constatamos que estes são crescentes, sobre o que exige profunda reflexão e consequente tomada de posição para reduzir a inflexão da curva e até mesmo mudar o sentido da mesma. No gráfico abaixo, é apresentado o comportamento do custo de produção da soja em Mato Grosso do Sul, de acordo com Richetti (2015).
Figura 1. Evolução do custo de produção da soja em Mato Grosso do Sul. In: RICHETTI, A. Viabilidade econômica da cultura da soja na safra 2015/2016, em Mato Grosso do Sul. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2015. 14 p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Comunicado técnico, 202). Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/127925/1/COT2015202-1.pdf. Acesso em: 9 fev. 2016.
São dois os grandes desafios da agricultura do mundo tropical, especialmente para o Brasil: 1- Melhorar a capacidade produtiva dos solos agrícolas – em função do sistema de manejo utilizado a partir da incorporação das áreas hoje cultivadas, onde era intensa a mobilização dos solos com uso de arados, grades dentre outros implementos, os atributos físicos e biológicos especialmente, destes solos foram drasticamente deteriorados trazendo impactos negativos nos custos de produção e na produtividade agrícola. A adoção do sistema plantio direto – solo sem revolvimento; permanentemente coberto e rotação de culturas é fundamental para o restabelecimento do potencial produtivo do solo. Espécies para cobertura de solo é um ponto fundamental especialmente para a melhoria da estrutura do solo e por conseguinte de sua capacidade de retenção de água, melhor condições para o crescimento para raízes e dos microorganimos indispensáveis quando se pensa na importância da biologia do solo como fator da mais alta relevância para a produtividade agrícola. O manejo de espécies de cobertura também é fundamental para o controle de plantas daninhas, nematóides e doenças. A degradação dos atributos físicos do solo é grandemente responsável pelos elevados níveis populacionais de algumas espécies de nematóides, mas o que realmente está interferindo negativamente na produtividade das culturas não são estes nematóides, mas sim, a qualidade do solo. Grande parte das áreas ocupadas com o cultivo espécies produtoras de grão e fibras, bem como em áreas de pastagens naturais e plantadas, predomina a monocultura e, na maioria dos casos, sem a utilização de boas práticas agronômicas, tem-se como resultante a degradação dos solos, o que se reflete em baixa produtividade e elevada erosão.
A rotação de culturas é consiste no cultivo alternado ordenada de diferentes espécies vegetais, em determinado espaço de tempo , na mesma área e na mesma estação do ano. Esta prática é fundamental quando se pensa na sustentabilidade de qualquer modelo de produção. Devemos evitar cultivar uma mesma área continuamente com uma mesma espécie vegetal. A diversidade proporcionada pela rotação de cultura melhora todos os fatores de produção e por conseguinte a produtividade das culturas. Em resumo, a melhoria da capacidade produtiva do solo pode ser realizada através de práticas simples, mas fundamentais quando se pensa na sustentabilidade dos sistemas de produção. 2- Redução dos custos de produção – ponto fundamental para que possamos continuar produzindo de forma competitiva. Quais os principais fatores que impactam fortemente no custo de produção de soja, de milho e algodão? São vários, mas os mais importantes é não observância ou incorporação aos diferentes sistemas de produção de práticas como a rotação de culturas. A ausência destas práticas está contribuindo para o aumento dos custos de produção e consequentemente pela menor lucratividade por unidade produzida.
Aumentar a produtividade deve ser o objetivo de todos, mas este aumento precisa ser sustentável. O aumento da produtividade tem que ser acompanhado do aumento da lucratividade. Nem sempre a máxima produtividade é aquela que proporciona o melhor retorno financeiro. Normalmente, a dose de fertilizante que proporciona a máxima eficiência econômica é menor do aquela que proporciona a máxima eficiência física.
Em resumo – o grande desafio para que agricultura possa continuar contribuindo com o crescimento do Brasil e para que os agricultores tenham retorno de seus investimentos faz-se necessária a mudança de paradigmas, a revisão de conceitos, a implementação de novas atitudes, tendo como alvo a melhoria do processo de produção, o que em última análise passa pela melhoria na eficiência de todo o processo produtivo. Considerar como prioridade nestas mudanças a importância do recurso solo. É indispensável que a agricultura gere mais que divisas; bem estar, tranquilidade e qualidade de vida.
Fernando Mendes Lamas é Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador da Embrapa e atual Secretário de Estado de Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul. E:mail: flamas@sepaf.ms.gov.br